Tendo pesadelos, na escuridão insana da noite.
Nas passagens estreitas e umidecidas das vielas,
Correndo nos guetos de um inimigo sem fim, pelas favelas.
Sem parar, suspirando, sem respirar.
Sem tempo pra olhar, correr com os olhos fechados porque o medo fica fora de mim
Não vejo a minha face, mas ela deve estar congelada pelo meu medo que a tomou,
Devo continuar correndo, mesmo achando que estou paralisado há milênios.
Reclusão nos calabouços do ódio,
Escravizado pelo veneno do homem,
Aquele que produz drogas e bombas,
Dor com um pacote entregue pela janela, bomba de neutros,
Entregada nos lares, as crianças brincavam na rua,
O leiteiro trabalhava tranquilamente,
O cachorro latia, o jogador saia pra treinar,
As crianças para o colégio, a dona de casa limpava seu trabalho, seu lar.
E a vida parou.
Fui congelado e escravizado,
Pelo medo de ser eu mesmo, de ser homem.
O que eu posso fazer pelo igual a mim?
A vida parou, a bomba caiu, quem sobreviveu quer morrer,
Quem morreu não se conhece mais,
E Deus onde estava?
Olhando para a humanidade que criou, sendo sensato.
Deve ser difícil ser Deus, seus filhos caíram sem honra,
Eu só queria voltar, a saber, sorrir, meu rosto está congelado, meus olhos estão fechados, tenho vergonha de abri-los.
Eu não quero contemplar a luz, me pergunto se Deus existe.
Mas Ele não me quer, ele está ocupado olhando para o Obama e para o Osama,
Para a Dilma e para o Serra.
Para as serras que cortam o planeta,
Dividem no meio, os sonhos, as tribos indígenas, os animais.
A água, a vida.
Eu não quero mais abrir meus olhos, tento me mexer, mas não posso,
Tento chorar mais não consigo, não tenho coração. (Heartless)
Quero fugir para aquele mundo que o soldado samurai foi,
Mas lá não tem espaço pra mim, só os vencedores pisam la,
Eu sou o mundo, o mundo vai acabar com o mundo e ficar sem mundo,
Pra viver, sequer pra morrer, sem poder correr, estou paralisado.
Acabou o encanto, acabaram as flores, o inverno chegou, morreram as plantas.
Morreu o mar, morreu o ato de amar, ficaram as palavras, as vazias,
As de mentira, como as flores de plástico, o dinheiro não vale mais nada,
Sem mundo, pra que dinheiro? Pra que vitória se não tenho honra.
Honra ao mérito no peito do atleta, que não pode correr, está paralisado.
Por si mesmo, não quer mais correr, não quer mais lutar.
Nós nunca caminhamos sozinhos, nos escravizamos porque escolhemos,
Esquecemos de Deus e por isso morremos.
O mundo acabou.